O algodão é a principal fibra têxtil de origem vegetal no Brasil e no mundo. Diversos processos fazem parte do beneficiamento e classificação da fibra, e cada vez mais os cotonicultores precisam se adequar às normas de qualidade. A adequação permite que o produto tenha maior valorização comercial e menor deságio da pluma. Isso garante um melhor preço de mercado e maior poder de negociação do produtor. No artigo de hoje, detalhamos como ocorrem os processos de beneficiamento, para que o cotonicultor possa conhecer e se adequar às exigências de qualidade.
Beneficiamento
É realizado nas usinas algodoeiras e consiste resumidamente na separação da fibra e das sementes por processos mecânicos, com a mínima depreciação das qualidades da fibra. O processo preza por manter as qualidades e características que atendam às exigências das indústrias de fiação, tecelagem e têxtil. Abaixo seguem as etapas do beneficiamento:
Pesagem, avaliação de umidade e variedades:
É a primeira etapa quando o fardo de algodão chega na beneficiadora. Neste momento, uma amostra do fardo é retirada para que seja realizada a avaliação da transgenia, além do grau de pureza da matéria-prima e percentual de umidade. Quanto mais seco o algodão chegar na usina, maior a preservação das qualidades intrínsecas da fibra.
Desmanche do fardo:
É o momento em que ocorre a desintegração mecânica do fardo do algodão. Pode ocorrer de duas formas:
Primeiro, mais simples, onde o desmanche e lançamento do algodão ocorre imediatamente na fita da transportadora.
E o segundo que agrega a passagem do algodão, após o desmanche inicial, em um batedor inclinado equipado com grelhas. As grelhas provocam queda das impurezas menores existentes no produto, como restos culturais, solo e impurezas da colheita que ainda estejam ligados às fibras.
Pré-limpeza:
Neste passo, o algodão sai da fibra de transporte em direção a duas linhas de limpeza. Primeiramente passa por um equipamento mecânico conhecido como HLST, que promove a retirada de até 70% das impurezas existentes. Após, o algodão segue para a torre secadora e para o batedor inclinado, onde é direcionado para a rosca distribuidora que alimenta o equipamento Cotton King, que é responsável pela eliminação de 30% de impurezas da matéria-prima. Algumas usinas são equipadas com válvulas by-pass, que evitam a utilização dos equipamentos de pré-limpeza no algodão que chega mais limpo ao beneficiamento.
Descaroçamento e limpeza da pluma:
O trabalho das máquinas de descaroçamento é essencial para melhorar o processo de obtenção da pluma. Apresentam ferramentas tipo “serras” e “costelas”, além de rolos de escova que, juntos retém o algodão e separam o caroço de forma a permitir que a pluma resultante seja liberada para a limpeza. Essa fase é uma das mais importantes, pois, a separação correta evita a contaminação da pluma pelo óleo existente no caroço do algodão, e pode contaminar a fiação, prejudicando o preço da comercialização e a perda de credibilidade do serviço de beneficiamento.
Enfardamento e prensagem:
A pluma é transportada para uma prensa onde são formados pequenos fardos de algodão. Cada fardo, recebe uma etiqueta de identificação com código de barras e têm retiradas de suas laterais amostras para a classificação do algodão por laboratório especializado. Assim que cada fardo recebe o relatório eletrônico é liberado seu transporte ou empilhamento no armazém ou pátio externo da algodoeira. Neste sistema, os fardos são 100% rastreáveis, com histórico completo, no qual são lançados em sistema informatizado a entrada do fardo, pesagem, identificação, classificação, certificação de origem e qualidade e armazenagem.
Classificação da fibra.
A classificação da fibra é feita pelo HVI (High Volume Instrumet), equipamento utilizado para medir as características da fibra do algodão. O resultado desta análise é importante tanto para o mercado interno quanto o externo. As amostras são analisadas em ambiente climatizado, com temperatura e umidade controladas (20°C ±2 e umidade 65% ±2). Por meio do sistema HVI são analisadas as seguintes características da fibra:
Resistência: capacidade da fibra de suportar uma carga até romper-se. É expressa em g/tex (universal) e g/tex (Brasil), e o padrão da fibra deve ficar entre 28 e 29 mm, com uma resistência mínima de 26 g/tex.
Comprimento (UHM): É determinado eletronicamente e se considera o comprimento médio da metade mais longa do feixe de fibras em 32 subdivisões de polegada.
Uniformidade do comprimento (%): relação entre o comprimento médio e o comprimento médio da metade mais longa do feixe de fibras. A referência de qualidade mínima é de 83% de uniformidade.
Índice ou conteúdo de fibras curtas (%): Frequência expressa em função do peso ou da quantidade de fibras com comprimento inferior a 12,7 mm. Uma amostra é considerada de boa qualidade quando o algodão contiver no máximo 7% de fibras curtas.
Finura ou Fineza: Também conhecido como Índice micronaire, indica a resistência de uma determinada massa de fibras a um fluxo de ar, à pressão constante e em câmara de volume definido. Usualmente algodão é comercializado entre os limites de 3,9 e 4,5 de micronaire, sendo ideais os compreendidos entre 3,8 e 4,2.
Elasticidade: Capacidade da fibra de se recuperar, total ou parcialmente, seu comprimento inicial após cessar a força que causava a deformação.
Resiliência: propriedade das fibras de voltarem ao seu estado original.
Fiabilidade: Propriedade que a fibra possui de se transformar em fio.
Resistência: Capacidade da fibra em suportar uma carga até romper-se. Espera-se encontrar para as fibras de algodão entre 28 e 29 mm, uma resistência mínima de 26 g/tex.
Umidade e “Regain”: Umidade é o percentual de água que o material possui em relação ao seu peso úmido. Já o “Regain” é o percentual de água que o material possui em relação ao seu peso seco até atingir o ponto de equilíbrio com a umidade relativa do ambiente.
Cor, lustro e reflectância: A cor está relacionada diretamente a natureza da fibra. O lustro é o brilho natural da fibra e quanto mais lisa e circular, maior o brilho que a fibra apresenta. A reflectância (Rd%) representa uma escala que varia do branco ao cinza. Quanto maior a reflectância da fibra, menor seu acinzentamento e maior o interesse da indústria têxtil.
O que é sistema ABRAPA de identificação (SAI)?
Foi desenvolvido e implantado pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), em 2004 e permite a identificação e procedência dos fardos de algodão, agregando competitividade na comercialização ao identificar o cotonicultor, as características do produto e sua classificação e as exigências de controle de qualidade dos principais compradores de qualquer parte do país e do mundo. O sistema auxilia na classificação por HVI (High Volume Instrumet), facilitando a identificação das amostras enviadas aos laboratórios para medição dos parâmetros de comprimento, micronaire, uniformidade e resistência.
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