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Uso da ecologia química no controle do bicudo-do-algodoeiro

Atualizado: 21 de jul. de 2023

Considerada a principal praga da cultura do algodão, com impactos econômicos da ordem de 10% dos custos de produção, o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) segue sendo motivo de preocupação para os cotonicultores do Brasil. Seus danos estão relacionados ao ataque nas estruturas reprodutivas do algodão, que se inicia atacando os botões florais, para alimentação ou postura. Com o desenvolvimento das fases jovens da praga no interior do botão floral, as flores atacadas apresentam o aspecto característico de “flor em balão”, com abertura anormal das pétalas. Já, no ataque às maçãs, pode ocorrer abertura anormal dos capulhos, causando o sintoma conhecido como carimã.

Bicudo

Adulto de Anthonomus grandis. Foto: F. H. Iost Filho

Apesar da disponibilidade de ferramentas químicas eficazes no controle do bicudo e o alto número de pulverizações durante todo o ciclo da cultura, a população na lavoura está frequentemente acima dos níveis de controle. Alguns fatores podem explicar esse fenômeno, principalmente a alta capacidade reprodutiva e o ciclo rápido dessa espécie e o fato de as aplicações atingirem principalmente os adultos, pois as fases jovens se encontram protegidas nas estruturas reprodutivas do algodão, como as maçãs e os botões florais. Assim, dificilmente são atingidas pelos inseticidas químicos aplicados nas lavouras.

pragas do algoão
Pragas do algodão - 2

Fases jovens do bicudo-do-algodoeiro em estruturas reprodutivas do algodão: a) fase larval dentro de uma maçã; b) fase de pupa dentro de um botão floral. Fotos: F. H. Iost Filho

 

Com os desafios no manejo dessa praga, novas ferramentas foram desenvolvidas para serem integradas ao método químico, trazendo maior eficácia no controle. Exemplo de nova ferramenta é o uso de substâncias para a manipulação do comportamento da praga visando a redução populacional desses insetos no campo. Essa manipulação é baseada nos conhecimentos da ecologia química da praga e de seu hospedeiro.


Os feromônios são substâncias químicas produzidas pelos insetos na comunicação entre indivíduos da mesma espécie, principalmente para o encontro entre machos e fêmeas para o acasalamento. Com o avanço do conhecimento químico, pesquisadores conseguiram sintetizar substâncias semelhantes a esses feromônios naturais para serem utilizadas com diferentes finalidades nas lavouras. Para o manejo do bicudo-do-algodoeiro, os feromônios sintéticos já são empregados das seguintes maneiras:

– Monitoramento – podem ser utilizados para atrair os insetos para armadilhas, auxiliando no monitoramento das populações para tomada de decisão de manejo;


– Atração e morte – podem ser utilizados em estruturas que contêm inseticidas químicos que causam a morte da praga. Essas estruturas são conhecidas como tubo mata bicudo (TMB).

Novos estudos estão sendo realizados pela EMBRAPA para otimizar essas ferramentas que já são largamente utilizadas pelos produtores de algodão. Um desses novos estudos consiste no desenvolvimento de pastilhas biodegradáveis contendo feromônios para atração do inseto e fungos entomopatogênicos que causam a morte desses insetos. A vantagem dessa ferramenta é que o próprio inseto poderá contaminar outros indivíduos de sua espécie uma vez que o fungo não causa morte imediata e pode ser transmitido de um inseto para outro.


Outros estudos visam aumentar a atratividade dos insetos até as armadilhas. Pesquisadores descobriram que o feromônio perdia eficiência na atração da praga quando a planta chegava ao estágio reprodutivo. Assim, foi proposto o uso de outras substâncias químicas integradas aos feromônios. Essas substâncias, conhecidas como aleloquímicos, são utilizadas para comunicação entre indivíduos de espécies distintas. Nesse caso, seriam incorporados voláteis produzidos pelo algodoeiro que são atrativos ao bicudo, aumentando a atratividade obtida pelo feromônio sozinho.


Ainda, foram identificadas substâncias que repelem o bicudo da lavoura, mas, estudos mais completos são necessários para que essa ferramenta possa ser integrada ao manejo de manipulação da ecologia química da praga.


Ressalta-se que o uso de ferramentas que interferem no comportamento da praga representa uma estratégia compatível com programas de Manejo Integrado de Pragas, baseado no uso de ferramentas sinérgicas, ou seja, buscando o aumento da eficácia de controle obtida por cada uma dessas ferramentas quando utilizadas de forma isolada.

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