ConheƧa as plantas invasoras resistentes ao glifosato
- Farmbox
- 6 de abr. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 25 de jul. de 2023
Recentemente a Embrapa divulgou uma nova espécie invasora que apresentou resistência ao glifosato no Brasil, a Euphorbia heterophylla, também conhecida como leiteiro, amendoim-bravo ou café-do-diabo. O caso estÔ restrito a uma pequena região do ParanÔ, mas jÔ preocupa produtores, pesquisadores e técnicos, principalmente pela perda de produtividade e impacto econÓmico que a dificuldade de controle desta planta pode causar.
Conhecer as espécies resistentes ao glifosato e planejar o manejo correto para o controle é essencial para garantir uma boa produção. No artigo de hoje vamos apresentar as plantas invasoras resistentes ao glifosato relatadas no Brasil, e quais as medidas adotar para o controle.
Como atua o glifosato?
à um herbicida não-seletivo, de amplo espectro, aplicado durante a pós-emergência para controle de espécies daninhas anuais e perenes, de folhas largas ou estreitas. Atua inibindo a enzima 5-enol-piruvilshiquimato-3-fosfato sintase (EPSPs), que atua diretamente no crescimento e na sobrevivência das plantas. Através deste mecanismo, causa amarelecimento dos meristemas, necrose e morte em alguns dias ou semanas.
Por que as plantas se tornam resistentes?
Quando uma planta Ć© caracterizada como resistente, ela apresenta a capacidade de sobreviver e se reproduzir mesmo com a aplicação da dose correta de um herbicida, ao qual a espĆ©cie era suscetĆvel, nas condiƧƵes normais de aplicação. Entretanto, o uso repetido do defensivo caracteriza uma situação de alta pressĆ£o de seleção, o que pode favorecer o desenvolvimento de plantas resistentes que jĆ” se encontram no meio da população. Dentre os fatores que influenciam na seleção de plantas invasoras resistentes ao glifosato estĆ£o: intensidade do uso do defensivo, eficiĆŖncia de controle sobre a população de plantas e persistĆŖncia no ambiente.
ConsequĆŖncias da resistĆŖncia
Requer mudanƧas nas prƔticas de manejo das plantas daninhas e das culturas.
Aumenta os custos de produção com o controle de plantas daninhas através do aumento na demanda de herbicidas e prÔticas de controle
Redução da viabilidade dos herbicidas.
Perda do potencial produtivo (baixo rendimento) e lucros mais baixos.
Quais as principais espƩcies resistentes?
Conyza spp. (buva) ā Popularmente conhecidas como buva, compƵem um complexo de trĆŖs espĆ©cies resistentes Conyza bonariensis, Conyza canadenses e Conyza sumatrensis. As perdas de rendimento devido a estas invasoras pode chegar a 50% em casos de alta infestação. Uma das principais alternativas de manejo Ć© a o uso do sistema de plantio direto, com vegetação nas entrelinhas. Assim, se diminui a germinação destas espĆ©cies que precisam de luminosidade para germinar.
Digitaria insularis (capim amargoso) ā Apresenta sementes com alto poder de germinação e fĆ”cil disseminação. Quando as plantas sĆ£o jovens (atĆ© 15 cm), ainda podem ser controladas com o uso de herbicidas. JĆ” as plantas adultas nĆ£o apresentam a mesma facilidade de controle. Por isso, o mais indicado Ć© monitorar a presenƧa de plantas jovens e realizar o controle enquanto estĆ£o neste estĆ”gio.
Lolium multiflorium (azevĆ©m) ā Ć um problema especialmente na regiĆ£o sul do Brasil, onde sua presenƧa Ć© muito abundante por ser utilizado como planta de cobertura no inverno. O principal manejo para controle Ć© utilizar aveia-preta, nabo ou centeio em substituição ao azevĆ©m no inverno.
Eleusine indica (capim-pĆ©-de-galinha) ā Bastante comum em cultivos anuais e perenes, a alta pressĆ£o de uso do glifosato acarretou resistĆŖncia da espĆ©cie. A rotação de culturas e utilização de outros herbicidas no qual a planta Ć© suscetĆvel sĆ£o os melhores mĆ©todos de controle. Foi relatada como planta resistente ao glifosato pela primeira vez na safra 2016.
Chloris elata (capim-branco) ā Ć encontrada principalmente nas regiƵes norte e centro oeste, como apresenta resistĆŖncia somente ao glifosato, pode ser controlada com uso de outros herbicidas.
Amaranthus palmeri e Amarathus hibrydus (Caruru-palmeri) ā Seu primeiro relato de resistĆŖncia ocorreu no Brasil em 2015, e Ć© considerada bastante agressiva em sua infestação. Pode reduzir o rendimento em atĆ© 90% na soja e 79% no milho. Pode ser controlada com uso de outros herbicidas, mas a aplicação deve ser realizada atĆ© a planta apresentar no mĆ”ximo 8 cm, pois Ć© quando se apresentam mais suscetĆveis.

Fonte: MANUAL DE IDENTIFICAÇAĢO DE PLANTAS INFESTANTESĀ
Como detectar as plantas invasoras resistentes?
Existem trĆŖs indĆcios bastante claros de como identificar estas plantas no campo:
1) Falha do herbicida em plantas invasoras após sua aplicação, especialmente se houver controle das outras espécies ao redor;
2) Detecção de uma reboleira de determinada espécie de planta invasora não controlada;
3) Registro da presenƧa de plantas daninhas sobreviventes e mortas da mesma espƩcie ou de espƩcies diferentes.
Como diminuir os casos de resistĆŖncia de invasoras ao glifosato?
Os métodos preventivos associados a um bom planejamento da safra diminuem a possibilidade de surgirem novas espécies resistentes. Dentre eles destacam-se: aquisição de sementes certificadas livre de invasoras; realização da limpeza do maquinÔrio e equipamentos, principalmente os de uso direto na lavoura; uso de glifosato de forma controlada e aplicado na dosagem recomendada para cada cultivo e de acordo com o monitoramento; rotação de ingredientes ativos de herbicidas; monitoramento constante da incidência de plantas invasoras; adoção do plantio direto e rotação de culturas.
REFERĆNCIAS
EMBRAPA ā Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuĆ”ria. Circular TĆ©cnica 132. Impacto econĆ“mico da resistĆŖncia de plantas daninhas a herbicidas no Brasil.
LEGLEITER & JOHNSON (2013) Palmer Amaranth Biology, Identification, and Management. Purdue University, 13p.
Imagens:
MOREIRA, G. J. C; BRAGANÇA, H. B. N.  Manual de identificação de plantas infestantes. Cultivos de Verão. São Paulo, Campinas, 2010.
Foto da capa: Lebna Landgraf